American Fiction: Tentando criar sua própria história

“American Fiction” é um filme que recebeu atenção por sua abordagem satírica e crítica sobre raça e hipocrisia no mundo literário. Dirigido por Cord Jefferson, o filme é baseado no romance “Erasure” de Percival Everett e apresenta Jeffrey Wright no papel de Thelonious “Monk” Ellison, um escritor negro que, frustrado com as rejeições de suas obras literárias complexas, escreve uma sátira exagerada cheia de estereótipos negros como uma espécie de brincadeira intelectual. O filme explora as pressões enfrentadas por criativos negros e a dinâmica complicada dentro de uma família de alto desempenho. Com performances notáveis de Wright, Sterling K. Brown e Tracee Ellis Ross, que interpretam os irmãos de Thelonious, “American Fiction” combina humor afiado e drama familiar. Pode-se dizer que o tema principal do filme é desprendimento, desprendimento de amarras, um filme que critica tanto posições conservadoras, quanto posições esquerdistas sobre o que os negros são, ou pelo menos deveriam ser, segundo a visão de mundo destas duas ideologias. A obra critica o fato da ''sinalização da virtude'', por parte de movimentos de esquerda americanos ao povo negro, onde em determinada situação estes intelectuais vitimizam o povo negro por seu sofrimento no passado, e, muita das vezes tomam o lugar de fala, ou a vez da fala de um negro para massagearem seus próprios egos e simularem que estão fazendo o bem. O filme também critica as grandes empresas que só buscam a respresentatividade de minorias se estas minorias lhes gerarem lucros, como na grande cena onde Monk conversa com seus editores brancos, e eles lhe dizem que seu trabalho está ''pouco negro'' e ''nada do gueto'' onde provoca que Monk escreva a estória esteriotipada que lhe trará fama. Mas o filme também critica o racismo, o descolamento de realidade de Monk que é um negro de classe média, que é respeitado por atingir certo sucesso, mas mesmo assim passa por pequenas situações de preconceito, mesmo não acreditando ele mesmo no conceito de raça. O filme, ao decorrer de sua duração não deixa de criticar os dois lados mais proeminentes do espectro politico, o que tenta ser babá do negro e o que não lhe dá a minima dignidade, afirmando que o negro merece respeito de ambos os lados, que o negro é ser humano e somente isso, humano como todas as outras raças. O filme é uma autoconscientização de hollywood e do próprio sistema mercadológico de obras artisticas. Toda obra artistica assim como em qualquer outro tipo de produção de bens não essenciais, passa por periodos de influencia ou o que popularmente denominamos ''moda'', nos anos 90 a moda era filmes drámaticos, nos anos 80, filmes de ação, agora a moda é o conceito de ''reprensentatividade de minorias''. O próprio oscar foi criticado por não ter um numéro expressivo de concorrentes negros nas suas categorias, assim, ademais, Hollywood percebeu que as minorias consumiam e eram um mercado a ser explorado, por conseguinte, começaram-se a realizar produções voltadas para este publico. Não digo que isto não tem a sua importância, pois amplia a representatividade para mais grupos, mas digo que isso tem um prazo de validade, assim como os estudios fazem versões modificadas de seus filmes para o governo chines, a exploração das minorias e sua representatividade nas telas e nas demais obras culturais, quando feitas por grandes estudios, não visam a representatividade sem primeiro visualizar o lucro que isso gerará; e quando este processo simbiótico deixar de produzir seus frutos ele com certeza será findado e esquecido. É justamente antecipando este fim fatalista, no qual a critica social de ''American Fiction'' trabalha, no decorrer do filme vemos como Monk tenta se liberar de seus esteriotipos de homem negro, mas tem que voltar a eles se quiser se sustentar e sobreviver, é como ser preso, tendo a ilusão de ser liberto, é como se a promessa de liberdade fosse falsa e nos todos ainda que, independente de sermos negros ou brancos, ainda estivessemos sujeitos a maquina destruidora de grande governos e grandes empresas impregnadas em nós juntamente com a pressão social de sermos alguém e produzirmos algo socialmente aceitavel. American Fiction aponta em resumo que para se ter sucesso, neste mundo atual, temos que deixar de agradar nós mesmos e em suma parar de seguir nossas convicções para sermos escravos do simulacro de aparencias que nossa própria sociedade exige dia após dia. Mas prefiro seguir o que diz Frederick Douglass, grande abolicionista norte americano e ex- escravo: ''Prefiro ser fiel a mim mesmo, mesmo correndo o risco de incorrer no ridículo para os outros, do que ser falso e incorrer na minha própria aversão.´´ Paz de espirito e comunhão consigo mesmo é muito mais valioso do que fama e notoriedades momentâneas. nota do filme:9/10.

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