"Faça das mulheres criaturas racionais e cidadãs livres, e elas rapidamente
se tornarão boas esposas; - isto é, se os homens não negligenciarem os
deveres de maridos e pais." - Mary Wollstonecraft ''Uma Revindicação dos
Direitos das Mulheres''. “Pobres Criaturas” (Poor Things), dirigido por Yorgos Lanthimos, é um filme
intrigante que reimagina o clássico Frankenstein. A trama segue a vida de Bella
Baxter (interpretada por Emma Stone), uma mulher trazida de volta à vida pelo
cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). O método de ressuscitação envolve a
transferência do cérebro de um feto para um corpo recentemente morto, resultando
em um comportamento peculiar e uma jornada de autodescoberta. O cenário
steampunk da Era Vitoriana, com prédios altos e padrões tortos, cria uma
atmosfera única. O figurino e o design de produção são excelentes, guiando o
espectador por esse mundo etéreo. A estética, reminiscente do Expressionismo
Alemão, contribui para a sensação de um sonho. A história, ancorada na relação
entre criador e criatura, aborda temas como o desenvolvimento feminino e a
transgressão das normas sociais. Bella, emancipando-se do controle de seu
criador, enfrenta questões de identidade e liberdade. Se prestarmos atenção aos
detalhes podemos perceber claramente que há muita influencia do classico de Mary
Shelley presente nesta obra. Assim como Frankstein, ''Pobres Criaturas'' também
se trata de uma historia de descobrimento do significado da vida - o que é a
vida? - como dizia o nobre Abujamrra, no seu Provocações, qual o sentido de
estarmos aqui, desempenhando nosso papel natural. Esse sentido nos é dado ou nós
o fazemos? No ponto de vista de pobres Criaturas Bella Baxter, faz sua própria
historia, é independente e curiosa para descobrir o mundo, e ninguém pode
para-la, nenhum homem e sequer nenhuma ordem social. Assim como Frankestein, ao
passar tempo convivendo com os seres humanos ''normais'', Bella nota a
hipocresia que envolve nossa sociedade de aparencias. Como a pobreza e
principalmente a condição das mulheres no determinado escopo do espaço social,
com sentimento e desejo de mudança Bella começa uma revolução por onde toda
revolução devia começar, pelo individuo, ou seja, ela transforma ela mesma,
saindo em aventuras e conhecendo o mundo e absorvendo-o do mesmo jeito que
Frankestein faz em seu conto, só que a um pequeno custo, o monstro do doutor
encara o preconceito de ser um homem feio e assustador, Bella enfrenta o
preconceito de ser uma mulher na era Vitoriana. E como até hoje as minorias tem
que lutar por seus direitos, no passado isso também não seria menos diferente. A
sociedade dominante, seja qual for sua época sempre elege um arquétipo de
perfeição e as pessoas que não se enquadram no mencionado sofrem preconceito. Os
humanos fogem de tudo que os tirem da normalidade das suas pequenas vidas e
preferem o conforto daquilo que já conhecem, mesmo que isso seja
irrevogavelmente putrefato. Ao acompanharmos a jornada de Bella, também vamos
desconstruindo nossos proprios olhares sobre as coisas, pois a personagem que
nos apresenta os fatos é isenta de pré julgamentos e ainda está tendo seus
conceitos sobre o mundo ao seu redor sendo formatados. Mesmo assim ela não é uma
agente passiva e sabe que o mundo é perigoso e se defende de acordo, e trata as
pessoas de acordo como é tratada pelas mesmas. ''Pobres Criaturas'' passa
durante seu tempo de tela sobre diversos assuntos, mas o principal deles é
discutir o significado da vida e o que fazemos com a liberdade que nós é dada,
se estamos atingindo todo nosso potencial ou estamos presos por amarras
costumeiras. Sinceramente espero que a liberdade que buscamos venha por
intermedio de nossas próprias atitudes, como foi no caso de Bella e não seja nos
dada por quem no fim quer nos escravizar. Nota do filme 9/10.
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